sábado, 14 de abril de 2018

EFEMÉRIDES DA FÁBRICA DE TECIDOS SANTA BÁRBARA, SITUADA NO MUNICÍPIO DE AUGUSTO DE LIMA, NORTE DE MINAS GERAIS



Marcos Paulo de Souza Miranda

Em meados do século XVIII a Fazenda Santa Bárbara, próxima ao Rio Curumataí, então pertencente ao Arraial do Tejuco, era propriedade do afortunado contratador João Fernandes de Oliveira, amasiado com a lendária Chica da Silva. Contava com uma casa de vivenda térrea, coberta de telha, um engenho de moer cana, movido por bois, uma casa de moinho coberta, bom rego d’água. A fazenda era muito extensa e estava dividida em dois retiros: Cavalgadura e São Miguel, que contavam como currais de pau-a-pique.

1856  - A Fazenda estava arrendada a Bento José Afonso Fernandes. Era então propriedade do Morgado João Germano de Oliveira Grijó, neto de João Fernandes e Chica da Silva.

1872 – O Governo da Província, por meio da Lei nº 1909, determina a análise das águas minerais termais existentes na Fazenda Santa Bárbara.

1884 – O comerciante de diamantes João da Matta Machado (08-02-1818 – 24.04.1886) idealiza a fundação da Fábrica de Tecidos Santa Bárbara, incumbindo seus filhos de darem andamento ao projeto. O local para implantação do empreendimento seria a Fazenda Santa Bárbara, então pertencente ao município de Diamantina e, atualmente, ao município de Augusto de Lima, a 285 km de Belo Horizonte. 

1885 – A planta da fábrica foi elaborada pelo engenheiro Eduardo Bonjean, o mesmo que montou o Palácio de Cristal em Petrópolis em 1884. O maquinário foi importado da Inglaterra, seguindo de trem do Rio de Janeiro até Conselheiro Lafaiete, de onde foi transportado em carros de boi até Sabará. Em seguida as máquinas foram embarcadas em balsas e desceram pelo Rio das Velhas até um porto chamado Manga, situado perto da fábrica.

19 de maio de 1886 -  Fundada em Diamantina  a sociedade comercial Matta Machado, Moreira & Cia, com o objetivo de produzir tecidos de algodão e promover a venda do produto. Foram fundadores: Dr. João da Matta Machado, Antônio Moreira da Costa (Barão de Paraúna), Augusto da Matta Machado, Álvaro da Matta Machado, Pedro da Matta Machado, Francisco Correa Ferreira Rabelo, João Antônio Lopes de Figueiredo, Pedro José Versiani e José da Silva Machado. 

1887 – O Jornal “A Província de Minas”, publicado em Ouro Preto em 06 de outubro de 1887, registra as propriedades medicinais das águas da Fazenda Santa Bárbara.

22 de maio de 1888  foi dado início à produção de tecidos de algodão sob a responsabilidade dos mestres ingleses João Kirch e Thomaz Moore. A água para movimentar o maquinário era captada no córrego da Areia, no alto da Serra do Espinhaço, sendo transportada por canais de pedra e por bicames  fabricados de aroeira e cedro.

1893 – Alice Dayrell registra em seu diário que vários familiares iam tratar-se nas águas quentes de Santa Bárbara. O diário foi publicado posteriormente com o título “Minha Vida de Menina”, sob o pseudônimo de Helena Morley.

1894 – Influenciados pela Encíclica Rerum Novarum, do Papa Leão XIII, sobre a condição dos operários, os proprietários da fábrica estabeleceram a coparticipação dos empregados nos lucros da empresa e criaram um fundo de beneficência para amparar os doentes e idosos.

1896 – Dirigia a tecelagem o Capitão Augusto da Mata Machado. O gerente era Francisco Diogo de Araújo Tameirão.

1898-1899 – Uma forte seca ocorrida na Bahia implicou em diminuição drástica do algodão que era fornecido para a fábrica de Santa Bárbara, que enfrentou grave crise financeira.

04 de dezembro de 1903, em razão de dívidas com o Banco Hipotecário do Brasil, a fábrica foi penhorada. À época o mestre de fiação era o inglês James Winders.

1906 – A fábrica contava com 1744 fusos, 72 teares, consumia 100 mil quilos anuais de tecido, força motriz de 150 cavalos de energia hidráulica, 120 operários, produzindo  um milhão de metros anuais de tecidos brancos, lisos, entrançados, sob a gerência do Coronel Teófilo Marques Ferreira.

1909 – Construído o prédio que seria utilizado como cinema posteriormente.

23 de fevereiro de 1933 – A fábrica é adquirida Pelo comerciante e banqueiro João Leopoldo Modesto Leal, titulado conde Modesto Leal pela Santa Sé (Araruama1860 — Rio de Janeiro31 de outubro de 1939), juntamente com outros sócios residentes no Rio de Janeiro.

1950 – João Paculdino Ferreira (01-06-1900 – 06-12-1963), filho de antigos operários da tecelagem,  adquire a Companhia Fiação e Tecidos Santa Bárbara e começa a modernizá-la, construindo uma usina para geração de energia elétrica e substituindo o antigo maquinário inglês movido a energia hidráulica. A usina foi inaugurada em 13 de janeiro de 1953.

1955 – João Paculdino Ferreira constrói um novo prédio para a fábrica, defronte ao antigo e imponente casarão industrial inaugurado em 1886. A tecelagem encontra-se ainda em funcionamento.
1962 – Parte do prédio da Fábrica Velha foi destruído por uma descarga atmosférica.

1963 - Com a morte de João Paculdino, a administração da empresa passou para seus filhos João e Alberto e hoje se encontra nas mãos da terceira geração da família.

1999 – Início da construção do hotel Águas de Santa Bárbara.

2014 – Em 24 de fevereiro o Ministério Público do Estado de Minas Gerais recomenda ao Município de Augusto de Lima o tombamento do conjunto arquitetônico da antiga Vila de Santa Bárbara.

2015 – Em 26 de agosto foi firmado pela Promotoria Estadual de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico, Município de Augusto de Lima e proprietários da fábrica, acordo para o tombamento consensual do conjunto arquitetônico da Vila de Santa Bárbara. O tombamento foi deliberado pelo Conselho Municipal de Patrimônio Cultural de Augusto de Lima em 04 de dezembro.

2016 – Em 21 de janeiro foi editado o Decreto 03/2016, homologando o tombamento do prédio da Fábrica de Tecidos Santa Bárbara e as edificações do seu entorno. No dia seguinte o bem foi inscrito no livro do tombo, passando a ser o primeiro bem protegido do município.

2016 – Em 27 de abril foi firmado acordo pelo Ministério Público com os proprietários e o Município de Augusto de Lima para elaboração do projeto de restauro dos bens tombados.

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