sábado, 14 de abril de 2018

SUBSÍDIOS PARA A BIOGRAFIA DE LUIS GARAMBEO MARTINS (1695-1775), O PRIMEIRO POVOADOR DE SANTANA DO GARAMBÉU - MG



Marcos Paulo de Souza Miranda
Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.
Membro da Academia de Letras do Ministério Público de Minas Gerais.
Membro do International Council of Monuments and Sites – ICOMOS – Brasil.
Sócio do Colégio Brasileiro de Genealogia.

Enquanto povoado, a cidade de Santana do Garambéu, situada na Zona da Mata Mineira, entre Barbacena, Lima Duarte e Andrelândia, surgiu na segunda metade do século XVIII, ao redor da Capela dedicada a Santana (padroeira dos mineradores), erigida em 1754, a pedido de José Viçoso[1].
Contudo, o povoamento do local é bem mais antigo e o primeiro a devassar e a se estabelecer naquelas plagas foi o bandeirante Luis Garambeo Martins, que emprestou seu nome ao lugar, conhecido desde a década de 1730, pelo menos, como Sítio do Garambeo, situado na margem direita do Rio Grande, onde vestígios ainda existentes comprovam a velha labuta em busca pelo precioso metal dourado.
Era comum, naqueles tempos, o local descoberto por determinado povoador receber o seu nome ou sobrenome. Prados, Raposos, Lamim, Pires, Alfenas, Padre Faria, Bento Rodrigues, Matias Cardoso e Antônio Dias são alguns exemplos que podemos citar.
Entretanto, em razão da denominação pouco vulgar, muitos pesquisadores especularam no sentido de que a palavra Garambeo seria  proveniente do Tupi caá+mbáe = Que mato tão abrangente é esse? ou Guarimbé = pato. Contudo, sem acerto, pois Garambeo era sobrenome do primeiro povoador do local, oriundo de Lisboa, Portugal.
Quando ele teria chegado às Minas Gerais ?


O mais antigo registro que encontramos da presença de Luis Garambeo Martins na Comarca do Rio das Mortes é datado de 24 de junho de 1739, quando ele serviu de padrinho a Antônia, filha de Pedro Pereira e Antônia Pereira de Jesus, que foi batizada na Capela de São Miguel do Cajurú pelo Padre Bento Gomes da Silva.[2]


Depois de tal data vamos encontrar o nome dele citado em registros religiosos realizados em Conceição do Ibitipoca, Capela mais próxima do local em que residia e que, àquela época, ainda não contava com templo próprio, havendo necessidade de se recorrer às Capelas da região.

Vejamos os valiosos registros encontrados durante nossas pesquisas e suas transcrições.


Aos vinte e dous dias do mez de Abril de mil setecentos e quarenta e hum anos de licença minha na Capella de Nossa Senhora da Conceição da Botipoca desta frega  de Nossa Senhora da Conceição digo da Piedade da Borda do Campo o Padre José de Freitas bautizou e poz os santos óleos a Eujennia  filha de Lauriana Jozefa solteira e pay incógnito escrava de Luiz Garambeo forão padrinhos André Antônio Pereira e Francisca Thereza de Jezus filha de Luiz Garambeo todos moradores da dita Botipoca. O Vigro  Joze Filippe de Gusmao e Silva.[3]




Maria filha de Domingos glz e de sua mulher Helena de Barros naceo aos des dias do mês de outubro do anno de mil e setecentos e quarenta e dous e aos vinte e sinco dias do mês de novembro do dito anno, eu o Pe Joze de Freitas, na Capella da Botipoca desta frga da Borda do Campo, a baptizei solenemente e lhe pus os santos óleos, forão padrinhos Pedro Pereira e madrinha Maria das Neves mulher de Luis granveo todos moradores no Rio Grande, desta frga pella parte de pais he neta de Domingos Gonsalves e de sua mulher Domingas Roiz da frga de Santa Eullallia do Loureira Arcebispado de Braga e pella parte da mai he neta de Salvador Fernandes e de sua mulher Maria de Barros naturaes da Villa de Mogi deste Bispado e por verdade fis este acento hoje vinte e sinco de novembro era ut supra Vigario Pe Joze de Freitas[4].



Aos vinte e seis dias do mês de Abril de mil e setecentos e quarenta e quatro anos na pia baptismal da Capella da Ibitipoca desta freguesia de Nossa Senhora da Piedade da Borda do Campo o reverendo Padre Simam de Sam Joze sacerdote do habito de Sam Pedro Capellam da dita Capella, de licença minha baptizou e pos os santos óleos a Anto filho legítimo de Manoel de Lima Índio e de sua mulher Laurianna escrava de Luis Garambeo Martins, foram padrinhos  Bartholomeu Gonçalves de Magalhaes e Margarida Gomes de Araújo todos dessa freguesia. Nasceo aos doze dias do dia e mês do dito anno. Do que fiz esse assento era ut supra.
O Vigro. Mel da Sylva Lagoinha[5].

Mas quem terá sido esse Garambeo ?

Luis Garambeo Martins casou-se, por volta de 1720, com Maria das Neves Sardinha (natural de Mogi das Cruzes, filha de  Anacleto Sardinha e Rosa de Oliveira), com quem teve  uma única filha chamada Francisca Teresa de Jesus, batizada em Mogi das Cruzes no ano de 1723.

Francisca, filha de Garambeo (1723-1779), casou-se em 01 de março de 1745, na Capela de Santo Antônio da Bertioga, Freguesia de Barbacena[6], com Bartolomeu Gonçalves de Magalhães (1722-1769), português natural de Santo Estevão, Comarca de Chaves, filho de Bartolomeu Gonçalves e Maria de Magalhães. Foram padrinhos Manoel de Azevedo Mattos e Pedro Xavier de Gouvea.

Francisca e Bartolomeu deixaram descendência na região de Triunfo – RS, onde o casal residiu após ter abandonado as Minas.

De acordo com Dicionário de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil, em 1752 Luis Garambéu partiu para o Rio Grande do Sul na companhia de João Pais Florião e  muitos outros paulistas que foram recrutados pelo Governador Gomes Freire de Andrade e marcharam para a região de Viamão e Missões sob o comando de Cristóvão Pereira de Abreu, que tinha por objetivo demarcar a América Meridional[7].

Ao que parece, contudo,  a partida se deu um pouco antes, pois nos livros de registros da Matriz de Viamão Luis Garambeo Martins começa a aparecer em registros de casamentos a partir do ano de 1748, constando que ele morava junto ao Rio Caí.[8]
 
Localizamos o registro de óbito de Luis Garambeo Martins em 1775 em Porto Alegre-RS, onde faleceu no dia dez de agosto, sem testamento, sendo sepultado na Matriz de Nossa Senhora da Madre de Deus. No registro consta que ele tinha cerca de oitenta anos de idade e era natural de Lisboa, Portugal, além de integrante das Irmandades das Almas e do Santíssimo Sacramento de Porto Alegre[9], o que evidencia uma destacada posição social.

 
Maria das Neves Sardinha faleceu em Porto Alegre - RS, com testamento, em 15 de maio de 1776, sendo sepultada na Matriz de Nossa Senhora da Madre de Deus. No assento consta que ela era viúva do Alferes Luis Garambeo Martins[10].


São esses, por enquanto, os dados que conseguimos levantar sobre Luis Garambeo Martins, o primeiro povoador da querida cidade de Santana do Garambéu, uma das mais antigas localidades da Comarca do Rio das Mortes.


[1] BARBOSA, Waldemar de Almeida. Dicionário Histórico e Geográfico de Minas Gerais. Belo Horizonte. Itatiaia.  1995. p. 301.
[2] Livro de Registro de Batizados da Paróquia do Pilar de São João del-Rei. 1738-1740. p. 103.
[3] Livro de Registros de Batizados da Paróquia de Nossa Senhora da Piedade da Borda do Campo (Barbacena) – 1737-1747. p. 39v.
[4] Livro de Registros de Batizados da Paróquia de Nossa Senhora da Piedade da Borda do Campo (Barbacena) – 1737-1747. p. 58.

[5] Livro de Registros de Batizados da Paróquia de Nossa Senhora da Piedade da Borda do Campo (Barbacena) – 1737-1747. p. 85v.
[6] Informação gentilmente cedida por Bartyra Sette. Barbacena, MG bat/matr 1742-1751 im 55/56 aos 01-03-1745.
[7] FRANCO, Francisco de Assis Carvalho. Dicionário de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil.  Belo Horizonte: Itatiaia. 1989. p. 12, 168, 178.
[9] Livro de Registro de Óbitos de Porto Alegre – 1772-1801. p. 8v.
[10] Livro de Registro de Óbitos de Porto Alegre – 1772-1801 – p. 18.

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